Foto: Reuters / Sérgio Moraes

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Artigo André Silva: A geração “Coca-Cola” falhou

Enquanto esperava na fila do corte de cabelo, sentado no salão, o assaltante chegou e rendeu a todos que estavam no local. As vítimas foram levadas para dentro do banheiro enquanto o meliante revistava os pertences pessoais dos reféns. Após encontrar em um das carteiras uma identidade policial, o bandido foi ao banheiro e atirou cinco vezes no policial militar. O assalto ocorreu em Belo Horizonte. Na mesma semana, a principal plataforma petrolífera do Brasil poderá deixar de ser chamar “Tupi” para de chamar “Lula”.  
Ao submeter a história da esquerda brasileira a uma reflexão, uma análise, uma crítica nem tão apurada assim é inevitável não se sentir confuso, desanimado, injuriado ou chegar ao extremo de se convencer de que “não dá pra levar esse país a sério mesmo”. Os beneficiados pela política da caridade que sobrevivem das bolsas governamentais certamente não gostam de criticar a esquerda "lulante". Talvez, após receberem a bolsa-educação eles encontrem o caminho do iluminismo e entendam que não basta dar o peixe, tem que ensinar a pescar.
A direita nem se fala!!! Para quem até promoveu uma ditadura para se manter no poder, e agora ter que aturar a falta de espaço na frente da condução da história, realmente, deve estar sendo algo muito chato. Mas, se colhe o que se planta. No final das contas a esquerda tem se saído menos pior.
A esperança na ousada esquerda revolucionária se transformou em fumaça. A mesma ideologia rebelde e contagiante que enfrentou um governo ditador e que ensinou presos comuns a se organizarem, resultando hoje no Comando Vermelho, não foi capaz de, ao menos, iniciar uma reforma revolucionária e necessária na educação, no currículo escolar nacional, na valorização do professor, enfim, na formação das crianças e adolescentes brasileiros. 
Em oito anos de governo este país poderia ter iniciado a formação de uma nova geração de jovens ambientados com a “sobrevivência sustentável”. Bem educados, usariam menos o sistema de saúde por viverem preventivamente, entenderiam que com violência nada se resolve e seriam opções mais qualificadas para administrar e gerir as empresas nacionais e internacionais, e principalmente administrar esse país que sempre está reprovado no controle de qualidade da política. 
Ao invés disso, o cidadão brasileiro é vitimado todos os dias por uma geração que aprendeu com a delinqüência que a impunidade é uma regra gerando custos e prejuízos sociais desnecessários. Além das vítimas, fatais ou não, o medo social de andar nas ruas, de ter um familiar morto em um assalto, de ter a casa invadida, ou algum outro crime recorrente faz dos eleitores vítimas ocultas. Os constantes insuportáveis níveis de criminalidade nas grandes capitais comprovam esse aprendizado. 
A geração “Coca-Cola” de Renato Russo falhou quando, “Cazuzando” a história, as idéias não mais corresponderam aos fatos. O ano de 2010 fechou simbolizando o fim de um ciclo que iniciou em 1964 quando militares tomaram o poder e instalaram uma ditadura recheada de torturas e desmandos. Antes, o cidadão era refém da violência de estado contra aqueles que eram considerados subversivos pela política de segurança nacional. O cidadão comum estava entre os militares e os subversivos. Em 1964, os Generais ostentavam suas estrelas em sinal de triunfo sobre a ameaça comunista. Em 2010, a sociedade continua refém, mas agora da violência urbana que ceifa milhares de vidas a cada ano. O cidadão comum continua no fogo cruzado que agora inverteu os lados tendo a polícia como caça e o bandido armado como o caçador. E para ostentar o triunfo, o grande molusco poder ter seu nome no principal campo brasileiro de extração de petróleo.
André Silva - Jornalista e Especialista em Criminalidade e Segurança Pública

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