Foto: Reuters / Sérgio Moraes

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Comentário de André Silva: Quando um Coronel da PM fala que a PM é uma "MERDA", está na hora de apagar a luz de vez...

Infelizmente somos obrigados a encarar esse tipo de situação em nosso cotidiano onde um coronel de polícia denigre a instituição, ameaça prender subordinados e desrespeita a sociedade abusando do seu poder para liberar um amigo advogado em uma abordagem policial. Vivemos em um país que não respeita o ser humano e nem a vida como um todo. Um país com mania de grandeza e com pobreza de espírito. Um país com necessidade de afirmação e que vive a dura realidade da hipocrisia. Quando um Coronel da Polícia Militar diz que a polícia é uma "merda" e que soldados são"fora do normal" e "leão em cima da carne" ele está dizendo para a sociedade que ele tem obrigação de oferecer proteção que ele, enquanto possuidor da patente de coronel, não pode fazer nada melhor. 

Um oficial de polícia militar está incubido de administrar e gerir a instituição, ou seja, está a frente da corporação  como gestor público, líder e comandante. Cabe aos praças (soldados, cabos e sargentos) a nobre função operacional de realmente "fazer o serviço de polícia" nas ruas em contato com a sociedade. A arrogância, despreparo e desrespeito ao ser humano que demonstra esse coronel Júlio Cézar na reportagem do jornal GazetaOnLine ( Link da matéria ) fez com que ele esquecesse que se a polícia é uma "merda", conforme ele disse, e se os seus subordinados soldados são "fora do normal", ele é um dos príncipais responsáveis por isso.

Certamente a reflexão ainda não tenha sido um exercício que o coronel tenha se ocupado após a sua vergonhosa fala na central de operações do 190. Sendo assim, para fins de reflexão social, vale esclarecer que a formação policial é realizada dentro da instituição policial. Se esse servidor social diz de forma generalista que todo soldado, que ele de alguma forma contribui para a formação(faz parte da função do oficial formar soldados), é igual a "leão em cima da carne", ele estaria assumindo sua incapacidade de formar bons policiais para prestar bons serviços à sociedade.

Acontecimentos como esse somente reforçam a necessidade de se rever o sistema de segurança pública nacional e estadual e promover uma reforma no sistema policial iniciando pelo plano de carreira e formação profissional. Infelizmente servidores como esse envergonham os bons policiais. Parabéns ao Cmt Geral que não se omitiu e agiu com profissionalismo.

Coronel chama a PM de MERDA, ameaça prender subordinado para liberar amigo advogado de abordagem. Até quando essa vergonha?


28/09/2010 - 12h14 - Atualizado em 28/09/2010 - 12h14

Coronel que chama PM de m... é afastado do cargo por 30 dias

Coronel Julio Cezar ocupava o comando da direção de Logística da corporação. Também foi afastado o corregedor Coronel João Antônio da Costa Fernandes



GAZETA ONLINE

Na manhã desta terça-feira (28) foi afastado pelo comando da Polícia Militar o coronel Julio Cezar do cargo de Diretor de Logística da Corporação por 30 dias por conta das declarações dadas por ele contra a instituição. Também foi afastado o corregedor Coronel João Antônio da Costa Fernandes.

De acordo com nota enviada pela a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Espírito Santo, o Comando Geral da corporação vai instaurar um inquérito policial militar para apurar os fatos. 

"Por fim, o Comando Geral comunicará o Procurador Geral de Justiça das providências tomadas e solicitará apoio do Ministério Público no acompanhamento dos fatos", diz a nota.

Relembre o caso

Uma gravação do Ciodes mostra a reação explosiva do coronel da Polícia Militar, Julio Cezar. O coronel defendia um advogado, amigo dele, que foi barrado pela polícia porque estaria dirigindo em alta velocidade numa rua de Vitória. Confira a conversa em áudio. Abaixo leia a transcrição do diálogo. Na edição desta terça (28) confira declarações exclusivas feitas pelo militar para A GAZETA.

Atendente Ciodes: Ciodes, capitão Roger, boa noite
Coronel Julio: ô Roger, é o coronel Júlio, tudo bem
Ciodes, capitão Roger:  Tudo, chefe
Coronel Julio: Rapaz, manda ver o que tá acontecendo naquele posto de trânsito de Jardim Camburi..
Ciodes, capitão Roger:  Já mandei, já
Coronel Julio: Porque tem um advogado, inclusive ele é advogado do coronel Corso, só que o Corso tá de férias.

Ciodes, capitão Roger: Eu falei com ele agora pelo celular

Coronel Julio: E ele tá achando, pelo que eu tô entendendo, ele é uma pessoa que eu conheço muito, ele tava ontem na minha residência assistindo jogo comigo... eu tô achando que a polícia tá excedendo. Agora, eu tô julgando de longe. Manda alguém de fora ver isso pra gente não ter que entrar para autuar alguém aí...

Coronel Julio: Os soldados estão, assim, fora do normal. O soldado é igual leão em cima de carne

Ciodes, capitão Roger: Mas me falaram o seguinte nessa ocorrência...o coronel Henrique ligou pra falar desse advogado.

Coronel Julio: Esse rapaz é advogado de uma centena de oficiais da PM

Ciodes, capitão Roger: O que que acontece, eles falaram que o rapaz mudou de faixa e, então eles foram orientá-lo... adverti-lo.

Coronel Julio: Pegaram o cara dentro do supermercado

Ciodes, capitão Roger: No estacionamento

Coronel Júlio: Nãoooo, sem fundadas suspeitas, a lei é clara. Eu vou sentar o ferro nesses "policia", eu vou lá e vou prender esses 'cara'

Ciodes, capitão Roger: É, me falaram o seguinte... orientaram a conduzir ao posto de trânsito.

Coronel Julio: Não é o que que falaram, é o que a Lei fala. Você é o oficil de servição. O que que a Lei fala: só pode abordar com fundadas suspeitas. A polícia já começa errado...

Ciodes, capitão Roger: a princípio ele tinha cometido uma infração de trânsito

Coronel Julio: Qual o oficial que você mandou lá?

Ciodes, capitão Roger: Não mandei oficial, não. Mandei o próprio policial de trânsito lá.

Coronel Julio: Ô Roger, eu tô te determinando. Manda um oficial lá! Antes que dê problema e que sobre pra você e pra quem tiver nessa merda.

Ciodes, capitão Roger: Eu vou mandar

Coronel Julio: Essa polícia eu conheço bem porque eu sou coronel dela, hein! Se der problema pra esse rapaz eu vou mandar prender vocês. Porque eu tô vendo que a polícia tá se excedendo.

E como essa porcaria tá tudo 'gravado'...eu tô dizendo a você, tô de dando ordem, manda lá!

Ciodes, capitão Roger: Tô mandando lá, agora

Coronel Julio: Não é possível que essa merda dessa PM vá fazer bobagem com uma cara que eu conheço, que tava dentro da minha casa vendo jogo comigo ontem, que é advogado do corregedor da polícia, que é advogado de mais de 100 oficiais da polícia. Eu vou ligar para o comandante da polícia e vou mandar prender os 'polícia' lá. E eu vou lá e prendo. Você me liga urgentemente me dando esse retorno.

Ciodes, capitão Roger: Tá certo, vou ligar pra lá.


Cabos e soldados não se consideram milicianos, como disse coronel

A gravação do Ciodes mostrando a reação do coronel da Polícia Militar, Julio Cezar, ao defender um amigo advogado flagrado dirigindo em alta velocidade pela polícia e praticamente condenando e ameaçando de prisão o soldado responsável pela ocorrência causou indignação entre os praças da Polícia Militar.

O diretor da Associação de Cabos e Soldados da PM, Flávio Gava, classificou como falta de respeito as declarações do oficial. Não aceitamos esse tipo de pressão. Há muito tempo não vejo isso acontecendo. Nós agimos dentro da lei", disse Gava.

De acordo com o soldado Flávio Gava, a Associação ainda não tomou conhecimento concreto das declarações feitas pelo coronel Julio Cezar Costa, mas ainda assim acredita que o soldado responsável pela abordagem ao amigo do coronel tenha tido razão ao fazer a ocorrência."Queremos que o governador determine a apuração rigorosa de todos os fatos envolvendo essa situação e que seja penalizado os que realmente agiram de forma errada.

"O pau de dá em Chico também tem que dar em Francisco. Porque nós soldados temos que ser achincalhados? Nós honramos o brasão que ostentamos na farda. Estamos na ponta da lança defendendo a sociedade. Ninguém brinca colocando a vida em risco", frisou o diretor da Associação de Cabos e Soldados.

Flávio Gava disse ainda que já está cansado de ver tanta impunidade nas camadas superiores da Polícia Militar do Espírito Santo. "Nós cabos e soldados cansamos de ver tanta punição nas camadas inferiores e nenhuma atitude mais concreta em relação aos oficiais. Queremos que o tratamento seja igual".

De acordo com a Associação não falta comando à Polícia Militar e nem a instituição está se tornando um grupo paramilitar, como as milícias. "Me estranha ouvir que falta comando na Polícia Militar de um dos integrantes do Alto Comando. Não há bandalheira e não somos milicianos. Somos ordeiros", disse Gava.

Fonte: Gazeta OnLine

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Entrevista com Eduardo Machado, co-criador do site PE Body Count ao FBSP


Eduardo Machado
Pernambuco
Nome: Eduardo Machado


Idade: 34 anos


Carreira: atual repórter especial do Jornal do Commercio, em Recife, Machado é co-criador do site PE Body Count, que contabiliza diariamente as vítimas da violência em Pernambuco. Especializado em reportagens sobre segurança pública, ele já ganhou diversos prêmios, como o Vladimir Herzog e o Esso, por textos dissencando a violência em diversas partes do Brasil e do mundo.


Aos 34 anos, o jornalista é um dos nomes mais relevantes entre os que escrevem sobre segurança pública no Brasil. Nascido no Recife e atualmente repórter especial do Jornal do Commercio, Eduardo é autor de reportagens premiadas sobre violência, direitos humanos e segurança. Em 2002, recebeu o aclamado Prêmio Essso de Jornalismo por um texto tratando das quatro favelas mais violentas do país. Também conquistou o Prêmio Vladimir Herzog, em 2006, por um caderno especial sobre como a Colômbia conseguiu contornar seus graves problemas de homicídios.





Associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Eduardo ganhou ainda mais destaque na carreira ao lançar em 2007, numa parceria com outros três colegas jornalistas, o site PE Body Count. Trata-se de um contador de homicídios online, realizado a partir de um minucioso levantamento feito pelo grupo junto a institutos de medicina legal, delegacias e batalhões de polícia, entre outras fontes. Para acompanhar a contagem, os jornalistas vêm promovendo ações de conscientização com grande repercussão. Penduraram mais de 1000 lenços em uma igreja do Recife, representando pessoas assassinadas, fincaram centenas de cruzes na praia de Boa Viagem e pintaram durante um mês desenhos de corpos no local de assassinatos, todos com a palavra “Basta” escrita no peito.





Com a iniciativa, incomodaram autoridades locais a respeito da violência no Estado, conseguiram chamar a atenção da mídia e incentivaram um debate mais profundo sobre os problemas e soluções para a segurança pública nacional.





Em entrevista ao site do FBSP, o jornalista falou sobre o site PE Body Count, sua carreira e visões em relação a segurança.





PERGUNTA – Só para situar melhor quem está lendo esta entrevista, como você acabou se tornando um jornalista especializado em segurança pública?


Comecei como estagiário do Jornal do Comércio em 1997, na editoria de Cidades, que trata do dia-a-dia do Recife. Já entrei logo na área de polícia, escrevendo sobre segurança pública. Foi algo do qual gostei logo de início, porque você aprende muito. Ali aprendi a desconfiar do que estão dizendo, aprendi a entender a necessidade de ouvir sempre os dois lados da notícia. 





Fui ficando nessa área. Quando me formei, fui contratado pelo Diário de Pernambuco e, depois, em 1999, fui chamado para voltar ao Jornal do Commercio, onde estou até hoje. Atualmente sou repórter especial do jornal.





PERGUNTA – Você recebeu uma série de importantes prêmios por reportagens sobre violência e direitos humanos. Quais foram eles?


Para mim, o mais importante foi o primeiro, o Esso, em 2002. Foi uma reportagem falando das quatro favelas mais violentas do Brasil. Para fazer essa reportagem, tive de viajar para São Paulo, Rio, Vitória, comparando todas elas com uma comunidade do Recife e mostrando que esses eram os lugares mais violentos do Brasil. O interessante é que não fomos a esses locais mostrar a violência, fomos para mostrar que, neles, quem praticava a violência e criminalidade era uma minoria. Que ali existem várias pessoas e famílias que levavam suas vidas de forma digna, mas que viviam oprimidas por essa violência e até pelo combate a essa violência. O nome da reportagem era “Raízes da Violência” e, além do Esso, ganhou também um prêmio muito importante de Pernambuco chamado Cristina Tavares de Jornalismo. 





Foi um marco em minha mudança de visão dentro dessa questão de segurança pública. Até 2002, eu ia muito para o lado de ficar reverberando a questão da criminalidade, de ficar relatando os crimes que aconteciam. E a partir dessa reportagem demos um passo na tentativa de mostrar como tudo podia ser diferente, que o foco não precisa necessariamente ser na guerra contra o crime, mas sim na prevenção e na valorização de bons exemplos e boas práticas.





Outra reportagem que gostaria de destacar em minha carreira é a sobre a Colômbia, que venceu o prêmio Tim Lopes em 2006. Foi um caderno especial, aliás, a primeira vez em que fiz um caderno especial. Isso foi muito recompensador. Foi a primeira grande reportagem no Brasil sobre a Colômbia. Foram oito páginas falando de como eles conseguiram contornar o problema da explosão de homicídios. A partir daí, foi possível para mim compartilhar as experiências, não só colocando no papel, mas com convites para palestras. Teve uma grande repercussão. Acho, inclusive, que foi a partir daí que veio o convite para fazer parte do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.





PERGUNTA – Você diz que, desde 2002, sua visão sobre a cobertura jornalística de segurança pública vem mudando. Isso vem acontecendo com outros veículos e jornalistas, ou ainda se continua fazendo o mesmo tipo de cobertura jornalística de sempre? 


Acho que ainda estamos em um processo de avanço nessa questão da visão da imprensa, de maneira geral, em torno criminalidade e de vários outros temas, como direitos humanos. Isso tudo faz parte de um amadurecimento. Temos de ver que faz 25 anos que acabou uma ditadura no Brasil. A imprensa pôde se dizer livre apenas a partir de 1985 e talvez a gente esteja apenas na segunda ou terceira geração de jornalistas que estão começando a entender as coisas de uma maneira mais ampla, com uma visão de menos vícios que no passado. Há dezenas de exemplos de jornalistas que têm consciência do que estão fazendo, mas existe, claro, uma parcela enorme de expoentes que ainda não conseguiram enxergar que há uma responsabilidade muito grande na difusão de notícias de criminalidade. Porque se não tomarmos cuidado, acabamos virando apenas mais uma peça dentro dessa engrenagem da violência, onde aí entram a corrupção no país, o coronelismo, o clientelismo. E a imprensa, com práticas recorrentes de desserviço, que também acabam entrando nesse espiral.





PERGUNTA – Como é a relação entre as autoridades e o setor da imprensa que escreve sobre segurança pública?


Acho que é uma relação mais ódio que de amor. Acho que as autoridades brasileiras ainda estão longe de entender o que é uma crítica, estão longe de afastar a questão pessoal do desempenho profissional deles. É muito difícil uma autoridade entender que o melhor amigo dele é um fiscal criterioso e honesto que quer a melhoria dos serviços prestados à sociedade. É importante saber lidar com a mídia – claro, aquela mídia que faz críticas, mas que trabalha de forma respeitosa e é honesta. A autoridade e a imprensa, juntas, podem construir muito mais.





PERGUNTA – Como está hoje a situação da violência em Pernambuco, considerado um dos Estados com os piores índices de criminalidade do país?


Pernambuco hoje tem um sólido programa de segurança pública com um acompanhamento e um controle que não existiam até então. É um programa chamado Pacto pela Vida (leia mais sobre o Pacto pela Vida aqui), que acompanha semanalmente todas as estatísticas policiais de homicídios que ocorrem no Estado. O Estado foi dividido em áreas, e cada área tem um gestor da polícia militar e da polícia civil. Toda semana esses gestores têm de prestar contas a seus superiores a respeito de quantos homicídios ocorreram em sua área. Eles têm metas estipuladas, têm prazos e também soluções para que esses crimes não explodam. Ou seja não é simplesmente jogar os caras nessas áreas e dizer que não pode ter homicídio lá. Há uma série de operações policiais e medidas que eles podem colocar em prática e que são acompanhadas diretamente. Há um envolvimento direto do governador nisso. Sem contar que a liderança não fica a cargo exclusivamente dos policiais. O secretário de planejamento do Estado é que conduz isso e é quem mais cobra essa questão. Até porque o Pacto pela Vida não se resume à secretaria de segurança pública, aqui em Pernambuco chamada de secretaria de defesa social. Existem ações que são desempenhadas pela Justiça, pelo Ministério Público, pela secretaria de saúde e a secretaria de desenvolvimento social. 





Isso tudo tem feito com que nosso Estado tenha, desde 2007, entrado num processo decrescente nos números de homicídios. Em 2007, houve queda de 2%; em 2008 de 2,5%; em 2009, tivemos uma queda de 12% no número de homicídios. Nesse primeiro trimestre agora, houve uma queda de 13%. É uma iniciativa, portanto, que tem trazido resultados realmente positivos. Apesar de Pernambuco continuar sendo um dos Estados mais violentos do Brasil e, de acordo com os últimos dados nacionais divulgados em 2008, ainda estamos em terceiro lugar no ranking dos Estados mais violentos do Brasil. Temos ainda estatísticas de guerra. 





PERGUNTA – Como surgiu a ideia de criar o site PE Body Count?


A partir de 2002, com a reportagem “Raízes da Violência”, que ganhou o Prêmio Esso, comecei a embarcar na ideia de encontrar boas experiências. A partir daí, vieram outras reportagens especiais premiadas, feitas em parceria com outros jornalistas. Entre elas houve a reportagem “Anatomia da Violência”, que ganhou o Prêmio Vladimir Herzog em 2004 e que contou com dez repórteres do jornal dissecando várias faces da violência em Pernambuco. Isso foi evoluindo e, em 2006, fiz o caderno especial da Colômbia, que foi muito marcante para mim pois vi o quanto a sociedade lá participava de maneira preventiva na redução e enfrentamento da violência. 





No começo de 2007, saiu uma reportagem aqui no jornal falando do Rio Body Count, que era um contador de homicídios a partir de notícias vinculadas na imprensa feita por um grupo de amigos. Eles instalaram um contador de homicídios na Internet. Vi que aquilo poderia ser feito em Pernambuco também. Quando tinha feriado aqui, a gente contava os homicídios e publicava o resultado às segundas-feiras no jornal, o que sempre causava grande repercussão pois a gente contrapunha esses dados com os dados oficiais. A gente viu que havia a possibilidade de fazer essa contagem telefonando para as delegacias, institutos médicos legais do Estado e hospitais para fazer esse levantamento. Com mais três colegas aqui do Jornal do Commercio que também cobriam a área de segurança, a gente resolveu montar esse contador de homicídios. Sem contar também que, de 2006 para 2007, foi quando explodiu o fenômeno dos blogs. Vimos que poderíamos juntar as duas coisas: poderíamos ter, ao mesmo tempo, um contador e um blog para cada um relatar os bastidores de suas reportagens de polícia. Enfim podíamos colocar no blog informações que não cabiam no espaço físico do jornal.





Lançamos o contador de homicídios em maio de 2007 e foi uma repercussão tremenda. Tem um conteúdo muito importante de conscientização, que é o que a gente queria fazer, acabando com aquela história de ficar só reclamando da falta de segurança e incentivando uma discussão mais profunda a respeito do tema. Conseguimos fazer isso. 





PERGUNTA – Como vocês fazem essa contagem de homicídios? Quais fontes vocês usam?


No começo, nós quatro revezávamos, cada um fazendo um dia essa contagem por telefone. A gente faz umas dezenas de ligações por dia, entre 30 e 50 ligações para delegacias, para batalhões de polícia, para os institutos de medicina legal de Pernambuco. Com esse levantamento, uma empresa de software daqui de Recife criou para nós uma página de administração onde a gente cadastra os nomes das pessoas mortes e automaticamente é atualizado o número de homicídios. Todos os dias damos esse balanço, praticamente em tempo real.





PERGUNTA – E como foi a reação das autoridades locais frente à contagem de vocês, que muitas vezes não batia com os números oficiais?


Tivemos algumas reações veladas e outras explícitas. Fizemos ações que extrapolaram a Internet, de protesto contra a violência. Fizemos, por exemplo, uma ação chamada Mar de Lágrimas, em que penduramos lenços na frente de uma igreja de Recife representando as pessoas assassinadas em Pernambuco. Penduramos 1174 lenços. Fincamos cruzes na praia de Boa Viagem. Durante um mês, mandávamos a lista das pessoas assassinadas naquela semana para as igrejas e os padres liam nas missas os nomes das pessoas mortas. E a mais forte dessas ações foi o Mártires da Violência. Durante o mês de outubro de 2007, pintamos no chão o desenho de um corpo no local onde a pessoa foi assassinada, com a palavra “Basta” no peito. Isso deu uma grande repercussão. Depois de um mês, a cidade tinha mais de 80 marcas espalhadas. 





Acreditamos na transformação através do constrangimento. E foi bastante constrangedor para as autoridades a repercussão do trabalho que a gente estava fazendo. Isso contribuiu para que muita coisa mudasse. 





PERGUNTA – Você disse certa vez que, apesar da repercussão, dentro de Pernambuco o Body Count seria pouco usado por outros jornalistas. Por quê?


Somos funcionários do Jornal do Commercio. Fica meio estranho, acho, para os outros veículos daqui darem visibilidade a um projeto que é feito por pessoas que trabalham em outro jornal. Mesmo não sendo ligado ao Jornal do Commercio. Somos independentes e sequer existimos do ponto de vista formal. Não somos uma ONG, somos apenas um site. Não temos sede, não recebemos (fora um repórter que nos ajuda a fazer a contagem atualmente), não existimos formalmente. 





Somos apenas quatro jornalistas que decidiram fazer um projeto de comunicação diferente de tudo o que existia. Queríamos dar uma maior contribuição nessa área de segurança pública fazendo o que sabíamos, que é comunicação.

Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública 

É esse o país que vivemos. Falta pouco ou muito para a se aproximar do México?

Criminosos voltam a atirar contra Deosp em BH



Daniela Galvão - Estado de Minas
Publicação: 27/09/2010 10:27 Atualização: 27/09/2010 12:29

A polícia está à procura dos suspeitos de atirar contra o Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital, na madrugada desta segunda-feira. 


Há exatamente uma semana o departamento também foi vítima de um atentado semelhante. Na ocasião, uma mulher que estava dentro de um ônibus na Avenida Amazonas foi atingida. As mais de 40 cápsulas localizadas pela perícia eram de pistolas calibre 40 e 9 milímetros

Segundo as primeiras informações, nesta segunda-feira os suspeitos estariam em um Vectra prata e atiraram contra o prédio. Os disparos atingiram paredes, janelas e o giroflex de uma viatura. 

As cápsulas encontradas no local são de calibre de uso restrito das Forças Armadas. A polícia suspeita que os homens tenham entrado no Deoesp, já que um dos tiros atingiu uma pilastra interna do prédio. 

A Polícia Civil não descarta a hipótese de represálias aos casos da Embraforte ou outras investigações da polícia. Em nota, a Polícia Civil afirmou que "o fato não intimidará a ação dos policiais da Deoesp".

Fonte: Portal Uai

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Comentário André Silva - A culpa pelas mortes ligadas ao tráfico é, acima de tudo, do usuário.

A informação do jornal mineiro, Estado de Minas, sobre a atratividade da classe média para a atividade altamente lucrativa do tráfico deveria gerar uma revisão de posicionamento sobre o usuário. A legalização das drogas na prática é uma realidade. Apesar da proibição legal, o uso e consumo de drogas, especialmente nas grandes capitais brasileiras, é algo corriqueiro ao ponto de atrair jovens de classe média para a condição de traficantes e não somente usuários.

Seja a maconha, o crack, a cocaína ou o LSD, a demanda é sempre alta bastando somente o traficante utilizar o marketing e definir o público para o seu produto. Independente da discussão sobre descriminalização das drogas, é sempre o usuário quem financia toda essa economia de entorpecentes ou drogas ilícitas. Sendo assim, não basta somente tratar o usuário e caracterizá-lo como doente, dependente químico necessitado de cuidados, há que se manter uma sanção pela conduta ativa de financiador do mercado ilegal de drogas que se reflete no tráfico de armas, pessoas, assassinatos e assaltos.

A recuperação é uma medida posterior à sanção, à punição. Se não houvesse quem comprasse a droga não haveria quem vendesse. Portanto, não há lógica em se manter praticamente passar a mão na cabeça do usuário e focar as ações repressivas no traficante que diante dos altos lucros e a ineficiência do poder público já entendeu que o crime é um produto barato no Brasil.

André Silva 

Produção de drogas sintéticas em Minas atrai classe média para o tráfico


Pedro Rocha Franco - Estado de Minas
Publicação: 13/09/2010 07:06 Atualização: 13/09/2010 07:58
O modismo das festas raves e trances em Belo Horizonte e a difusão da música eletrônica para o interior do estado nos últimos anos são acompanhados de um fenômeno: a proliferação do uso de drogas sintéticas, principalmente LSD e ecstasy. Antes produzidos exclusivamente na Europa e introduzidos no Brasil pelo escambo da cocaína, os entorpecentes tiveram tamanho aumento de mercado que, a partir deste ano, a droga passou a ser produzida também em Minas, com o tráfico da matéria-prima do ecstasy, o MDMA (metilenodioximetanfetamina). Neste ano, foram feitas as três primeiras apreensões da substância no estado.

Quase metade dos presos pela Polícia Federal desde o início do ano são traficantes de drogas sintéticas e haxixe e, nesse caso, a maior parte formada por pessoas de classe média alta. Segundo o chefe da Delegacia de Repressão de Entorpecentes, João Geraldo, empresários, médicos, advogados, DJs e universitários têm sido presos com frequência atuando na noite de BH e do interior. Com o aumento do consumo dos entorpecentes, a PF tem concentrado a atuação em um público-alvo distinto. “Andam bem trajados, em carros bons e não são abordados pela PM, tendo tranquilidade para atuar”, diz o delegado. “A molecada está se distanciando da maconha e buscando o haxixe e as sintéticas, que têm efeitos mais fortes e dão um status melhor”, afirma o chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal, delegado João Geraldo.

E aproveitam também a possibilidade de transformar pequenas quantidades em estoques até milionários de droga. A mistura de 10 gramas do pó MDMA com produtos químicos possibilita a produção de quatro ou cinco comprimidos, tendo concentração variável de 20% até 70%. Mas, em Minas, ainda não foram estourados laboratórios. No Brasil, segundo a PF, os únicos dois descobertos foram no Paraná. “A fabricação demanda certa tecnologia, mas é possível fazer num pequeno apartamento”, diz o delegado.

No caso da ocorrência da primeira apreensão do MDMA, feita no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, foram pouco mais de 300 gramas, o que, segundo o Setor Técnico Científico da Polícia Federal, seria suficiente para a produção de mais de 1 mil comprimidos de ecstasy, com valor estimado em R$ 50 mil.

Envoltos em sacos plásticos escondidos em tênis, misturados com borra de café e ainda revestidos com uma camada de papel-carbono, o traficante tinha todos os cuidados para tentar burlar a fiscalização de cães farejadores e dos aparelhos de raios X. No entanto, a PF descobriu o esquema a partir de uma apreensão anterior de 50 comprimidos, o que resultou numa investigação mais aprofundada do jovem. Morador da Região Centro-Sul, ele viajava sozinho para a Europa.

O traficante não confirmou se venderia a matéria-prima para fabricantes de ecstasy ou se a venderia in natura em boates e festas. Na capital, os principais pontos de vendas estão localizados onde o movimento noturno é mais agitado, tendo foco principal na Savassi e no Sion, ambos na Região Centro-Sul. Segundo o delegado, dado o efeito, a droga tem sido vendida no seu formato original, bastando a mistura num líquido. Seja numa garrafinha de água ou num copo de uísque ou vodca, o pó é misturado e a dose, vendida. O custo varia entre R$ 30 e R$ 50. Basta pingar uma gota no olho, nariz ou na língua e se tem o efeito alucinógeno. “A apreensão é difícil. Imagine um PM abordando alguém só por estar com uma garrafa na mão”, afirma.

Fonte: Portal UAI

domingo, 12 de setembro de 2010

HERANÇA DA TORTURA DA DITADURA MILITAR, QUE O STF LEGITIMOU, ESTÁ NA ESSÊNCIA DA CRUELDADE DA MORTE DE ELIZA SAMÚDIO

Nem em imagens fictícias dá para suportar a violência e a tortura?

A trama cultural do assassinato de Eliza Samúdio



O caso do goleiro Bruno do Flamengo trouxe à tona duas faces violentas da cultura brasileira: a primeira é a violência contra a mulher, herança da colonização, e a segunda, a tortura praticada por militares criminosos, herança da ditadura militar.
A essência dos requintes de crueldade do assassinato de Eliza Samúdio remetem à cultura da tortura e dos assassinatos nos porões da ditadura militar. Um policial treinado seria o suspeito da tortura e morte da jovem. Para o Supremo Tribunal Federal, emdecisão recente, a tortura praticada por militares e as dezenas de assassinatos durante o regime militar estão perdoados.
O perdão aos torturadores e o perdão aos assassinos de mulheres estão expostos de forma mais evidente no caso do goleiro Bruno do Flamengo. É urgente e necessária uma política nacional de combate ao machismo e à tortura, ainda resistente no país.
Além dessas duas heranças, há também o mundo fútil da exploração do corpo presente muito presente na mídia de uma sociedade com excessiva concentração de renda. A história do crime nos remete à toda uma prática social aceita, que é a valorização excessiva dos atributos do corpo como forma de se dar bem na vida em uma sociedade de pobres e milionários. Há uma desigualdade social difícil de combater que parece estar presente na trama do Caso Bruno.
Beleza, corpo, desigualdade social, machismo, tortura e ditadura militar parecem compor esse quadro macabro do assassinato de Eliza Samúdio.

Fonte: Educação Política - mídia,economia e cultura por Glauco Cortez