Foto: Reuters / Sérgio Moraes

domingo, 31 de janeiro de 2010

ENTREVISTA - Entrevista de Naiá Duarte para o blog sobre a violência doméstica contra a mulher nas igrejas




Quem é Naiá Duarte (suas referências) e há quanto tempo você luta pelo fim da violência contra a mulher?


Naiá Duarte: Sou santista, formada em Direito e História com especializações na área de educação e filosofia, casada e mãe de 2 filhos. Luto pelas causas sociais há 10 anos e especificamente contra violência há 3 anos.


O que te levou a militar pelas mulheres vítimas de violência?


Naiá Duarte: Observando as mulheres dentro da igreja. Como uma mulher liberta em Jesus de Nazaré pode se deixar escravizar por textos fora do contexto como Efésios 5: 22 daí foi um pulo ao constatar a violência no âmbito eclesiástico (física, psicológica, patrimonial).


Aconteceu algum fato específico que te levou a dedicar sua vida a essa causa?


Naiá Duarte: Sim, quando compreendi que algumas mulheres sofrem violência por não saberem ou por serem influenciadas por textos fora do contexto em um “púlpito viciado” dominador e machista eu contatei meu amigo Pr. Ariovaldo Ramos e pedi sua orientação como poderíamos através da Palavra Sagrada minorar o sofrimento de mulheres que sofrem violência dentro e fora da igreja.


O que te motivou a abordar o tema no contexto das mulheres cristãs? Há violência dentro das igrejas evangélicas?


Naiá Duarte: É triste falar, mas existe e muito. Vou citar um exemplo de uma pastora:
“Naiá, o que eu faço? Meu marido é pastor e em casa me bate e me humilha. Eu disse:
Como na sua igreja existe um pastor presidente vá até ele e conte o que está acontecendo.
Ela foi e o pastor presidente disse que iria pensar no assunto e que em breve daria uma resposta.
Dois dias se passaram e o marido pastor foi chamado ao gabinete do presidente de uma grande igreja evangélica pentecostal.
Fulano pastor entende de Deus que você e sua família deveriam pastorear uma igreja a 500 km daqui. O fulano pastor todo feliz pegou sua esposa violentada e seus filhos e foram “pastorear” em um lugar longe dali e que não levantasse suspeitas. Em nenhum momento foi abordado ou tratado o assunto por eles.
Quando a pastora me telefonou dizendo o que tinha acontecido eu fiquei indignada e me pus à disposição e ela me perguntou novamente e agora? “Sabemos que não podemos decidir pela pessoa, disse que a minha preocupação era com a integridade física dela e aconselhei a denunciá-lo.”


Como tem sido recebido o seu trabalho, através do Projeto Mulher Viva, nas igrejas pelos pastores e liderança? Há uma resistência e na sua opinião a que ela se deve?


Naiá Duarte: A Mulher Viva tem sido bem aceito por igrejas sérias na Palavra e que entendem que o pecado pode vir a transformar maridos que deveriam proteger suas esposas em verdadeiros lobos ferozes. Algumas igrejas onde o estudo da língua original e da história da igreja não é alvo de atenção a pregação é superficial, dominadora e excludente.


Como é a reação das mulheres cristãs ao seu trabalho? Elas se sentem encorajadas a relatar as violências sofridas?


Naiá Duarte: A reação normalmente é positiva mais o fato de relatar a violência ocorre depois de um a dois meses da palestra proferida, ou seja, a vitima me liga ou manda um email querendo saber como ela pode orientar sua vizinha que sofre espancamentos. Oriento por telefone ou email e peço para marcar um encontro com a vitima e na maioria das vezes vem ela com a vizinha acompanhando.


Você possui algum dado estatístico sobre a violência contra a mulher no meio evangélico?


Naiá Duarte: De acordo com a Casa de Isabel (ONG na zona leste da capital) 80 % das mulheres atendidas lá são evangélicas de igrejas neo-pentescostais, pentecostais e históricas.


Você trabalha ou pretende trabalhar com a conscientização do homem cristão sobre a problemática da violência contra a mulher? Se trabalha como é ou seria desenvolvida essa abordagem?


Naiá Duarte: Não trabalho diretamente com o homem agressor mais encaminho se ele quiser para tratamento psicológico e espiritual. Entendo que o homem agressor precisa de tratamento e amor.


Fale sobre o Projeto Mulher Viva. ( desde quando ele existe? como foi criado? qual objetivo? quais as ações e programas? quais as conquistas?...)


Naiá Duarte: O Projeto Mulher Viva nasceu no morro São Bento em Santos/SP por ocasião de uma palestra feita por mim sobre Direitos das Mulheres em 2007. Uma chama acendeu em mim e comecei a olhar para as mulheres com varias interrogações:
Por que a mulher aceita a violência?
Por que o púlpito é usado na maioria das vezes por homens?
Por que em casamentos aconselha-se a mulher a ser submissa e não aconselha o homem a amá-la e morrer por ela se necessário for. (efésios 5:22-30)
E após esses questionamentos criei junto com meu esposo advogado e pastor Cícero Duarte o Mulher Viva que tem como objetivo que toda mulher viva sem violência. Trabalhamos com a conscientização e prevenção da violência através de palestras, fóruns e oficinas. Ano passado (2009) atendemos 28 mulheres e alcançamos um publico de mais de 7000 pessoas.
Nossa meta para 2010 é atender 100 mulheres e firmar parcerias com objetivo de servir melhor a mulher vitimada.

Qual a sua opinião sobre a utilização dos blogs como ferramenta de atuação na luta contra toda e qualquer violência contra a mulher?


Naiá Duarte: Esperança


Deixa a sua mensagem para os leitores do blog "O grito de Ana" sobre essa atrocidade que é a violência contra a mulher praticada no mundo.

Naiá Duarte: Não podemos nos conformar com qualquer forma de violência contra qualquer pessoa, precisamos nos apoiar e lutar pelo direito a vida e ao amor, somente quando entendemos que a vida é o bem mais precioso que temos e que não podemos dispor dela porque esta é uma prerrogativa do altíssimo, compreenderemos que somos nós que devemos lutar pela vida e proteger nossa integridade; tendo como paradigma Jesus Cristo que rompeu a Lei do Silêncio denunciando e permitindo que suas discípulas estudassem, evangelizassem pregasse, ou seja, que pudessem exercer seus dons de uma forma integral.

2 comentários:

  1. Leia artigo que escrevi sobre a Lei Maria da Penha. A partir de entrevista da própria Maria da Penha, em 31/01/2010, que defende a existência de uma lei para prender os que ameaçam. ATESTANDO ASSIM A INEFICÁCIA DA LEI QUE LEVA O SEU NOME. Após tanta violência e mortes já em 2010. Vitimando mulheres. MAS A LEI MARIA DA PENHA REALMENTE FRACASSOU? O QUE FAZER? QUAIS E COMO OS ATORES SOCIAIS DEVEM AGIR? Leia, divulgue e comente ARTIGO DO MEU BLOG, clicando em: www.valdecyalves.blogspot.com

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