Foto: Reuters / Sérgio Moraes

sábado, 29 de maio de 2010

PELAS COSTAS: A covarde agressão à lei


PM recém-formada foi golpeada com uma barra de ferro na nuca por homem que roubou sua arma

A covarde agressão à lei

PM recém-formada foi golpeada com uma barra de ferro na nuca por homem que roubou sua armaDesde jovem fascinada por filmes policiais, Patrícia Wrubleski tem um irmão soldado e um tio sargento, ambos no Exército. Natural que a mescla polícia e farda, tão presente na sua vida, induzisse a jovem a abraçar a profissão de PM. Sonho que virou drama ontem, quando a recruta recentemente promovida a soldado foi vitimada pela faceta mais brutal da carreira. Aconteceu à luz do dia, no centro de uma Porto Alegre cada vez mais violenta. Surpreendida pelas costas, Patrícia, fardada, foi agredida na nuca com uma barra de ferro empunhada por um assaltante, que a acertou para roubar sua pistola.

Poderia ser fim de linha. Mas a policial, com 21 anos recém-completados, resolveu mostrar que é dura na queda. Apesar da dor de cabeça intensa e das ânsias de vômito, Patrícia ajudou com uma descrição a identificar o suspeito. E não fala em desistir do ofício de combater o crime.

– Se pudesse, convencia ela a voltar para casa e procurar outra profissão. Mas também não posso me intrometer na vida da guria – diz a mãe, Mariloni, que ontem chorou “o que tinha de chorar” e espera Patrícia, neste fim de semana, com a comida predileta e o carinho familiar.

Agressor havia passado por ela sem levantar suspeitas e a pegou pelas costas

Casa, para Patrícia, é sinônimo de Ijuí, de onde saiu ano passado para fazer o curso de PM em Porto Alegre. Escolheu a Capital porque nela existiam 1,1 mil vagas para soldado, contra algumas dezenas na sua terra natal. Loira, Patrícia é chamada de Polaca por colegas, mas é de descendência russa. Nascida e criada na região missioneira, é a filha mais velha de um torneiro mecânico e de uma dona de casa. Uma vida sem privações, mas também sem muito conforto. Trabalha desde os 18 anos e até pensava em ser enfermeira, diz a mãe. Foi quando atuava como secretária numa fábrica de cosméticos, recém-formada no Ensino Médio, que Patrícia pensou pela primeira vez em se tornar policial.

Contribuiu para isso, além das fardas do irmão e do tio, a escolha do noivo, que atuava como PM temporário. Os dois se inscreveram no concurso da BM, foram aprovados e se deslocaram juntos para Porto Alegre para os seis meses de curso – aquele, que acaba de incorporar 3,5 mil novos soldados à BM. Foram tempos de muito sanduíche, muita ordem unida e continência batida, muito sol a pino enfrentado dentro de uniforme quente. Formados, viraram orgulho das famílias. Em tempos de soldo baixo e poucos rendimentos, revela a mãe de Patrícia, a PM e o noivo moram nos respectivos quartéis (ela, no 9º Batalhão de Polícia Militar, ele numa unidade dos bombeiros).

A ficha funcional de Patrícia mostra que ela fez uma detenção em janeiro, quando estava no treinamento. Foi na Rua Voluntários da Pátria, onde surpreendeu um vendedor de CDs piratas. É a rotina no Centro: vistoriar camelôs ilegais, correr atrás de batedores de carteira, auxiliar gente perdida, apartar briga. Mas ontem o crime mostrou à soldado seu lado cruel.

Sozinha, patrulhava a Avenida Farrapos, quase na esquina com a Rua Barros Cassal, quando foi atingida por uma pancada na nuca. Eram 9h30min e, conforme ela relatou a colegas, o golpe com uma barra de ferro foi desferido por um homem que havia passado por ela sem levantar suspeitas e a pegou pelas costas. Patrícia desmaiou na hora. O desconhecido, um moreno baixo e com calvície avançada, roubou a pistola Taurus calibre .40 com 15 projéteis no carregador e fugiu.

– Foi uma agressão covarde – desabafa o comandante do 9º BPM, tenente-coronel Rogério Maciel.

Maciel não acredita em falhas por parte de Patrícia. Ele diz que agressões pelas costas podem vitimar um civil, um PM novato ou um policial com 30 anos de carreira.

PMs encontraram na Barros Cassal o cano de ferro, recheado com terra para ficar mais pesado, que foi usado pelo criminoso. Tem 40 cm de comprimento e, segundo testemunhas, estava escondido numa manga do casaco usado pelo agressor.

Suspeito de cometer o crime saiu em março de um albergue prisional

O assaltante em fuga tentou parar um táxi, que o evitou. Aí ele entrou num lotação, percorreu duas quadras em direção ao bairro Floresta e desembarcou. O suspeito é um conhecido assaltante que saiu em março de um albergue prisional.

Socorrida por um colega que formava dupla com ela, Patrícia foi levada para o Hospital de Pronto Socorro (HPS). Vai levar como recordação seis pontos na nuca, um dia inteiro com ânsias de vômito, saudade de casa e a sensação de que a farda é para os fortes. Qualidade que, os colegas garantem, ela tem de sobra.

Colaborou Carolina Rocha

HUMBERTO TREZZI

Fonte: Zero Hora
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2919700.xml&template=3898.dwt&edition=14783§ion=1001

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