Foto: Reuters / Sérgio Moraes

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A carreira policial

por *George Felipe de Lima Dantas

A carreira policial tem como pré-requisito cognitivo e vocacional primordial a capacidade investigativa (determinação de materialidade e autoria de crimes). O "bloco de competências" (segundo as teorias de Philippe Perrenaud) correspondente é essencialmente multi e interdisciplinares. O direito, obviamente é uma delas. Mas policiais não são "operadores do direito". No mundo inteiro é assim. Pilotos de aviação precisam conhecer aerodinâmica (essencial ao ato físico de voar), diplomatas precisam conhecer princípios do direito internacional que informam as negociações internacionais e bilaterais, sem que, contudo, precisem ser formados em direito (os exemplos disso se contam às centenas, ou mesmo milhares, aqui e no restante do mundo).

Acupunturistas precisam conhecer muito de anatomia, sem que isso implique que sejam bacharéis em ciências medicas. Tais exemplos, inúmeros deles, apontam, em sua lógica própria, que bacharéis em direito tendam a ser policiais de boa capacidade investigativa, assim como engenheiros devam compreender especialmente bem o ato de voar e médicos tenham um "plus" no exercício da acupuntura.

Mas o que não é possível compreender e aceitar (daí o eterno dilema de agentes versus delegados), logicamente, é que algumas poucas formações de nível superior, como seria o caso do direito, da engenharia e da medicina, sejam as únicas possíveis de serem identificadas como pré-requisito para o exercício de todos os ofícios de uma sociedade moderna, caso daquele que corresponde ao dos agentes da segurança pública.

Nos Estados Unidos da América, por exemplo, o bacharelado em "justiça criminal" (área acadêmica inter e multidisciplinar), via de regra, é a formação de nível superior exigida para o exercício da atividade policial. Afinal, essa discussão sobre agentes de polícia e delegados de polícia está assentada na lógica do conhecimento e do interesse público, ou de uma "agenda corporativista" que pretende manter uma "reserva de mercado"? - Repetindo, no restante do mundo não é assim...

* DANTAS, George Felipe de Lima, Professor Doutor em Educação ("The George Washington University") com dissertação doutoral sobre treinamento policial, docente e coordenador do componente de segurança pública do Núcleo de Estudos em Defesa, Segurança e Ordem Pública (NEDOP) do Centro Universitário do Distrito Federal (UniDF) de Brasília, Distrito Federal. Consultor-Sênior do Centro de Regional de Treinamento em Segurança Pública (TREINASP) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça.

Fonte: Blog "Segurança com Cidadania e Dignidade"

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