Foto: Reuters / Sérgio Moraes

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Artigo de André Silva - A médica, o advogado e o policial, autores da mesma tortura

Eventualmente somos surpreendidos com a barbárie que o homem é capaz de fazer com o seu semelhante pelo dinheiro, pelo poder ou pelo prazer doentio de causar sofrimento. Nesses últimos dias, a morte dos dois empresário mineiros têm ocupado o noticiário local. Esse dois empresários, que segundo as informações veículadas na mídia estariam supostamente envolvidos com crimes de lavagem de dinheiro e foram vítimas de uma quadrilha especializada em extorquir empresários envolvidos em atividades ilícitas. As duas vítimas foram mantidas em cárcere privado, torturadas e mortas. Seus corpos foram encontrados sem as cabeças e as pontas dos dedos.

Tão trágico quanto o crime é saber que os supostos autores são um estudante de direito, uma médica, dois policiais e um garçom. Pessoas que de uma forma geral estariam acima de qualquer suspeita de formarem uma quadrilha tão brutal e violênta.

Uma trama hollywoodiana com tempero mineiro leva o atento espectador/leitor a considerar alguns aspectos da infinidade de debates que esse fato proporciona.

O primeiro aspecto é a participação de uma bela médica, Gabriela Ferreira, recém formada e com a uma carreira promissora. O que levaria uma jovem médica a compor uma quadrilha de extorsão, tortura e assassinato? Fora do esterótipo do criminoso pobre e sem instrução é revelante tentar entender quais as razões ou motivações que a alimentavam. Sadismo? Pscicopatia? Ganância? Falta de princípios morais familiares e sociais? E os valores da medicina que ela deveria ter incorporado para salvar e cuidar de vidas? É de grande revelância que pesquisadores das ciências criminais continuem a se atentar para esse perfil de criminoso abastado e instruído que parece optar pela prática de crimes violentos.
Um aspecto de participação da médica é que ela seria namorada do líder da quadrilha, o estudante de direito Frederico C.F. Carvalho. Esse quadro remete aos tarficantes dos morros cariocas que possuem suas namoradas que acabam se envolvendo no universo do crime. Um assunto relevante para as ciências sociais e penais seria o envolvimento da mulher no crime por meio de envolvimento amoroso.
Apontado como líder, o estudante de direito somente difere do perfil social da médica pelo curso que escolheu - Direito. Conhecedor das leis, o jovem rapaz optou por não respeitá-las. Seria esse comportamento um desvio de personalidade? Um comportamento desviante justificado na criação? Aqui se levanta as mesmas questões relacionadas a Gabriela Ferreira.
E por último, a participação de dois policiais militares deveria estimular mudanças na gestão da instituição. Sem dúvida da seriedade da instituição policial, dos demais policiais que trabalham com seriedade, bem como dos advogados e médicos comprometidos com os valores humanos e sociais de suas profissões, há que se aproveitar tais fatos para refletir.
Ainda sob o ponto de vista da conduta desviante motivada por algum desequilibrio psicológico seria prudente para a sociedade e para a instituição policial um acompanhamento psicológico compulsório, talvez a cada três anos, para avaliar as condições da saúde mental do profissional bem como as tendências à comportamentos brutais e violentos como a tortura e o sadismo. Quanto ao controle interno, há a necessidade de um investimento sobretudo conceitual em uma unidade interna de acompanhamento, orientação e fiscalização da atividade policial com fins de prevenção ao delito cometido por policiais.
André Silva

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