Foto: Reuters / Sérgio Moraes

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tráfico suspende toque de recolher em Contagem


Alfredo Durães - Estado de Minas


Depois de nove dias de toque de recolher imposto por traficantes e o cerco geral da Polícia Militar, lojas, bares, oficinas, escritórios, escolas e postos de saúde voltam a funcionar nesta segunda-feira nos bairros São Mateus, Estrela Dalva e Tijuca, em Contagem, na Grande BH. Durante esse período, mais de 60 mil moradores só saíram para o trabalho, sendo obrigados a viajar para regiões vizinhas para comprar comida e remédios. Mesmo com a presença ostensiva de policiais militares durante o dia e à noite, comerciantes não se arriscaram a abrir a portas. A ação seria em represália ao assassinato de dois jovens.


Apesar de domingo ser dia de folga no comércio, padarias, bares e farmácias não deixam de funcionar pelo menos durante a manhã. Logo depois da morte de dois jovens, um ônibus foi queimado e o comércio fechou totalmente, sendo que nem mesmo prestadores de serviço, como oficinas mecânicas, funcionaram.


Este é o toque de recolher mais prolongado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de acordo com a Polícia Militar, que aumentou seu efetivo na região, com a presença de agentes do 18º Batalhão, Regimento de Cavalaria, Batalhão Rotam e Companhia de Missões Especiais. Alguns militares usavam no domingo armamento pesado, como fuzis Imbel 556. Também uma viatura do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil fez ronda nos bairros. Militares do Batalhão Rotam, com uma lista de suspeitos, estiveram no domingo em várias casas, mas ninguém foi preso. Apenas algumas igrejas católicas e evangélicas abriram as portas.


Segundo moradores, circulou domingo nos três bairros a notícia de que os traficantes suspenderiam nesta segunda-feira o toque de recolher, liberando o funcionamento do comércio. Uma jovem, que pediu para não ser identificada, disse que a notícia é comemorada por todos, já que a população está com dificuldades para comprar gêneros de primeira necessidade. “Temos de ir de ônibus até o Bairro Confisco para adquirir alguma coisa. O problema aqui é que ninguém confia na proteção da polícia e ela, muitas vezes, não é nem um pouco simpática. Há uns 15 dias, por exemplo, a PM chegou aqui neste beco e pegou uns garotos, todos novos, e fez com que ficassem de joelhos e com as mãos na parede por mais de 15 minutos. E todo mundo passava e via a humilhação dos meninos, o que causou muita revolta”, disse.


Assassinato


Apesar do policiamento reforçado em toda a área, o ajudante de pedreiro Rogério Rodrigues Alves, 32 anos, o Cabelo, foi morto com oito tiros de pistola no Aglomerado Recanto da Pampulha, no Bairro Estrela Dalva. O crime foi no Beco Tupi, pouco depois das 20h de sábado. Uma testemunha do crime disse que os matadores eram dois e que, depois de fuzilar Rogério, saíram caminhando sem pressa com as armas na cintura.


O tenente Célio Araújo, do 18º Batalhão, disse no domingo que o crime provavelmente foi um acerto de contas. Apesar de dezenas de pessoas terem presenciado a saída dos assassinos depois dos disparos, eles não foram identificados pela polícia, já que ninguém quis testemunhar. “Todo mundo viu os autores. Os assassinos são conhecidos aqui, mas ninguém vai ser bobo de falar, a não ser que queira morrer antes da hora”, disse um rapaz.


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