Foto: Reuters / Sérgio Moraes

terça-feira, 20 de julho de 2010

Belo Horizonte tem dois mortos a tiros por dia



Estudo da CNM aponta crescimento em homicídios por armas de fogo no Brasil; em Minas e na capital, números caíram

Augusto Franco - Repórter

Cerca de 70% de todos os homicídios cometidos no país entre 1996 e 2008 tiveram o envolvimento de armas de fogo. Em todo o país, nesse período, o uso de armas para cometer esse crime aumentou 12%. Apesar do crescimento nacional, os números em Minas e em Belo Horizonte vêm caindo. Na capital, em 2007, 939 pessoas morreram vítimas de tiros. Ou seja, 2,57 baixas por dia. Em 2008, foram 764 vítimas, ou seja, 2,09 mortos por tiros todos os dias.

Em 1996, 59,1% dos 38.894 homicídios registrados no país foram causados por armas de fogo. Em 2008, essa proporção representou 71,3%, o que corresponde a 34.678 das mais de 48 mil mortes ocorridas. Isso significa dizer que, no ano, praticou-se uma média de 95 homicídios com armas de fogo por dia. O índice é parecido ao de países em guerra, como Iraque e Afeganistão.

De acordo com especialistas, os crimes com armas estão, na maioria das vezes, ligados ao tráfico de drogas. Com estratégias de sucesso no combate ao tráfico na capital, como a implantação das polícias comunitárias e de projetos de inclusão social, o crime se “mudou” para cidades de grande e médio portes, mas menos vigiadas, como Betim e Governador Valadares, no Vale do Aço, que aparecem entre as 50 mais violentas.

O estudo foi realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), reunindo dados do Ministério da Saúde. De acordo com o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, o crescimento do tráfico de drogas e o fácil acesso às armas demonstram que o estado é incapaz de fiscalizar, por exemplo, a entrada de armas no país.

Estatuto do Desarmamento em xeque

Apesar de bonito no papel, segundo ele, o Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003, também não melhorou muito a situação. O problema é mais grave entre os estados e capitais do Nordeste, e em cidades da fronteira do Paraná. “A partir de 2003, a cada dez mortes, sete foram causadas por arma de fogo”, ressalta. O levantamento revela ainda que homens entre 15 e 24 anos são as maiores vítimas das armas de fogo.

De acordo com o pesquisador Robson Sávio, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), ligado à UFMG, vários estudos apontam que Minas Gerais melhorou seus níveis de criminalidade a partir de 2003. Mas os números ainda assustam, e o Estado tem um longo caminho antes de comemorar os resultados alcançados.

Segundo ele, estratégias de inclusão social e a integração entre as polícias Militar e Civil em pontos com altos índices de criminalidade foram benéficas, mas pontuais. “Temos que elogiar algumas medidas, mas o que vemos é que os focos de criminalidade simplesmente migraram de local. Ou seja, aquelas ações que deram certo devem continuar. Mas novas ações devem ser realizadas nos outros pontos”.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Defesa Social afirmou que apenas a Polícia Civil poderia se pronunciar sobre o assunto. A Polícia Civil, por sua vez, disse apenas que não comentaria os dados da pesquisa.

Betim ficou em 22ª no ranking nacional

Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é a única mineira que aparece entre as 30 cidades do país com maiores taxas de homicídios proporcionalmente à sua população. De acordo com o estudo realizado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), entre 2005 e 2007, a taxa média de mortos por armas de fogo na cidade foi de 62 para cada grupo de 100 mil habitantes.

O líder do ranking nacional é Guaíra, no Paraná, na divisa com o Paraguai (95 mortos por grupo de 100 mil), seguida pela vizinha Foz do Iguaçu(PR), também na divisa (88,3 mortos por 100 mil habitantes). Em seguida aparece Maceió, capital de Alagoas, com 79,4 por 100 mil. O ranking das 50 mais violentas conta com mais uma cidade mineira. Governador Valadares, no Vale do Aço, registra 53,2 mortos por grupo de 100 mil habitantes.

De acordo com o secretário de Governo de Betim, Renato Siqueira, os dados do estudo não mostram as mudanças desde 2009. Segundo ele, um conjunto de esforços entre a Prefeitura de Betim e Governo estadual permitiu a redução de 19,3% na taxa média mensal de homicídios na cidade entre 2008 e 2009.

A queda, afirma, foi fruto de parceria entre a prefeitura e as polícias Civil e Militar. O secretário acrescentou que a melhoria nos índices de segurança da cidade foi anunciada em maio deste ano, em um levantamento realizado pela Fundação João Pinheiro. “Em 2008, fomos um dos poucos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte a reduzir a quantidade de homicídios”, ressaltou Siqueira.

Segundo dados da Prefeitura de Betim, enquanto entre os anos de 2007 e 2008 a taxa de homicídios cresceu 18,3%, em Betim, a redução foi de 13,7%.

No período, a cidade reduziu de 4,43 ocorrências de homicídios por grupo de 100 mil habitantes para 3,58 casos por igual número de pessoas, no comparativo com 2008. A reversão desse quadro, registrada no ano passado, é confirmada com a tendência de queda de 5,9% de homicídios já verificada no primeiro trimestre de 2010.

“Os dados também são positivos quando o assunto é taxa de crime violento contra o patrimônio”, afirma. Ainda de acordo com a Prefeitura de Betim, a taxa de crimes violentos, que é calculada a partir de ocorrências registradas de homicídios consumados, homicídios tentados, estupros e roubos, também teve queda de 15,4% na comparação entre os últimos dois anos.

Fonte: Blog do Cabo Cláudio Santos

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