Foto: Reuters / Sérgio Moraes

domingo, 4 de julho de 2010

México: Um alerta para o Brasil do que é uma democracia refém do crime organizado

Violência assombra eleição mexicana

México em colapso. Em campanha marcada pela violência entre narcotraficantes, espionagem de autoridades, corrupção e assassinato de políticos, país decide hoje governo de 12 de seus 31 estados, além de centenas de prefeituras e autoridades locais

Jo Tuckman, The Guardian - O Estado de S.Paulo

Uma semana ininterrupta de intenso derramamento de sangue que antecedeu as cruciais eleições regionais mexicanas de hoje. Serão eleitos governadores de 12 dos 31 Estados, além de centenas de prefeitos e autoridades locais. Sem conseguir aplacar a violência do narcotráfico, o Partido Ação Nacional (PAN), do presidente Felipe Calderón, deve perder espaço para o rival Partido Revolucionário Institucional (PRI).

Mas, mais do que o resultado das urnas, os mexicanos esperam que a gigantesca operação de segurança montada pelo Exército e a polícia dê resultado e a eleição não se converta em um novo cenário de chacinas, assassinatos políticos e tiroteios entre cartéis rivais.

As campanhas foram marcadas pelo terror das quadrilhas de narcotraficantes, pela suposta violência paramilitar e pela espionagem, bem como a ameaçadora sensação de uma democracia à beira do precipício. Desde 2007, cerca de 27 mil pessoas morreram em episódios de violência relacionados às drogas.

"Em alguns casos, o palco para o domingo tem um aspecto bastante assustador", disse Emilio Álvarez Icaza, ex-ombudsman de direitos humanos do México, à Rádio MVS. "Não acho que já tenhamos chegado ao fundo do poço."

As tensões foram altas durante toda a semana após o assassinato, na segunda feira, do candidato favorito ao governo do Estado de Tamaulipas.

Assassinato político. A morte de Rodolfo Torre Cantu foi o assassinato político de maior impacto desde o caso de Luis Donaldo Colosio, candidato à presidência pelo PRI assassinado em 1994, e também um sinal claro de que a violência relacionada às drogas se tornou um fator de grande importância na política mexicana.

Torre Cantu foi assassinado quando se encaminhava para um comício numa emboscada por pistoleiros supostamente vestidos como fuzileiros navais, que pertenceriam a um dos cartéis que operam na área.

Sua candidatura foi assumida pelo seu irmão, Egidio Torre Cantu. A capa da revista semanal Proceso trazia um mapa do México destacando os Estados que realizariam eleições ao lado da manchete: "Narcoelecciones".

O Estado afetado de forma mais direta pelo tráfico de drogas e pelos cartéis é Chihuahua, onde fica Ciudad Juárez, considerada por muitos a cidade mais violenta do mundo. Uma das principais promotoras do país foi morta na cidade na quarta-feira quando pistoleiros atacaram o carro onde ela viajava. No dia seguinte, um cadáver decapitado e uma cabeça foram deixadas do lado de fora do escritório político do candidato favorito nas eleições para prefeito.

PARA ENTENDER

Felipe Calderón foi eleito presidente do México, em 2006, com a promessa de combater o tráfico de drogas, a corrupção e o clientelismo no país. Quatro anos depois, pouca coisa foi realizada. No primeiro mês de mandato, o ele intensificou a luta contra os cartéis, mas a violência cresceu. Para piorar, a crise econômica global atingiu a economia, que encolheu - no ano passado, o PIB mexicano retrocedeu mais de 6%. A morte de candidatos e autoridades políticas mexicanas, a poucos dias da votação, piorou a imagem internacional do México e deve levar a oposição a uma vitória hoje. Para analistas, os crimes seriam retaliação dos cartéis à estratégia de Calderón de apertar o cerco contra os narcotraficantes.

PONTOS-CHAVE

Candidato a governador

Rodolfo Torre, opositor favorito para vencer a eleição no Estado de Tamaulipas, foi
assassinado em uma emboscada de narcotraficantes na última segunda-feira


Assassinatos

22.700 número de mortes atribuídas ao crime organizado desde dezembro de 2006, inicio da ofensiva contra os cartéis

Vice-procuradora morta

Sandra Salas, vice-procuradora de Assuntos Internos do Estado, foi assassinada por um grupo armado em Ciudad Juárez, na quinta-feira, a três dias da votação

Fonte: Estadão

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