Foto: Reuters / Sérgio Moraes

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Uma percepção de quem está na linha de frente...

Para maioria dos policiais, não houve melhoria nas condições de segurança no país
Publicada em 15/09/2009 às 21h11m
Leila Suwwan
BRASÍLIA - Pesquisa divulgada nesta terça-feira mostra que a grande maioria dos policiais brasileiros avalia que a ocorrência de crimes está estável ou piorou no país. Apenas uma minoria, de 22% a 33%, opinou que há melhoria nas condições de segurança relativas a assassinatos, espancamentos, roubos, ameaça com arma e violência contra crianças e mulheres.

A pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para avaliar o andamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) ouviu 5,5 mil policiais militares, civis, comunitários e bombeiros em todo os estados. (Confira aqui o resultado da pesquisa sobre violência na percepção de comunidades e de policiais)

Além da polícia, foram pesquisadas as comunidades de sete locais onde já foram implantados "territórios da paz" - bairros onde há policiamento comunitário e programas sociais. Dentro da fatia de 60% a 65% de pessoas que conhecem o Pronasci, existe uma percepção de melhoria da segurança em geral. Porém, o Ministério da Justiça identificou dificuldades no quesito assassinatos: a maior parte da população em Benedito Bentes (AL), Vila Bom Jesus (RS) e Santa Inês (AC) avalia que os homicídios se agravaram. O governo pretende intensificar as ações nesses locais.

No Complexo do Alemão e Nova Brasília (RJ), os resultados da percepção da violência melhoraram. Entre março e junho deste ano, passou de 49% para 60% a parcela da comunidade que perceberam melhoras na incidência de assassinatos. Menos da metade da população nesse conjunto de favelas cariocas avaliou que houve melhora nas situações de espancamento (45%) e de violência contra mulheres e crianças (40%) - esses índices tiveram oscilação negativa no mesmo período.

O Ministério da Justiça não divulgou dados sobre a percepção de violência entre a população nos territórios da paz que não conhecem o Pronasci. A margem de erro é de cinco pontos percentuais para mais ou menos. Tampouco dividiu as análises dos policiais entre aqueles atuam ou não em áreas onde há projetos do Pronasci, um cruzamento que permitiria avaliar o programa.
- O fato de existir um índice apontando que a situação melhorou já é significativo - avaliou o ministro Tarso Genro (Justiça). Segundo ele, essa parcela, ainda que minoritária, assinala para uma tendência de melhora.

- Não haverá uma mudança espetacular rápida. A melhoria efetiva nos índices de segurança aparecerão em 4 ou 5 anos. Não podemos criar a ilusão de que o aumento da força policial e da repressão vai diminuir a violência. Temos um largo caminho a percorrer, mas é o único possível - completou.

Para o ministro, a lógica que predominou no país de que a segurança seria estabelecida pela força e ocupação territorial está superada, mas a transição de modelo é lenta e difícil. Apesar de elogiar a prefeitura do Rio de Janeiro na gestão de Eduardo Paes (PMDB), ele avalia que o estado, governado por Sergio Cabral (PMDB), ainda enfrenta problemas. Ele não apresentou dados sobre a queda efetiva de crimes - as estatísticas ainda estão sendo compiladas - mas disse que já há melhoras objetivas no Complexo do Alemão. Homicídios ficaram estáveis ou aumentaram para 71% dos policiais

A pesquisa da FGV mostrou que 71% dos policiais brasileiros opina que os homicídios ficaram estáveis ou aumentaram em suas áreas de atuação. A tendência negativa é semelhante para a violência contra mulheres e crianças (63%) e roubos a domicílio (74%). Os casos de lesão corporal, ainda na visão da polícia, têm alto índice de percepção de estabilidade: 48%. E, no caso de ameaças armadas, 38% disseram acreditar numa piora.

Cerca de um quarto dos policiais avaliaram que a segurança em suas áreas de trabalho é tranquila e está dentro de limites normais. Outros 56% disseram viver uma situação "tensa", com enfrentamentos ocasionais, mas ainda sob controle. Atuam em condições "críticas e de difícil contenção da ordem" 16% da polícia brasileira.

Nas comunidades dos sete territórios pesquisados, a FGV apontou para uma melhora na percepção de crimes "mais graves" e uma ligeira redução na percepção de crimes "domésticos".
Fonte: O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário